terça-feira, 3 de dezembro de 2013

O acadêmico Paulo Amaral faz, em nome da Academia, a saudação aos novos acadêmicos.


SAUDAÇÃO ACADÊMICA 2013

Senhora Presidente Iracy Carise;

Senhoras e Senhores Componentes da mesa;

Colegas acadêmicos; 

Queridos colegas que hoje ingressam na Academia Brasileira de Belas Artes e a quem em especial são proferidas estas breves palavras de fraterno acolhimento;

Senhoras e Senhores:

Tomei a abertura de um enigmático poema de Baudelaire para iniciar esta saudação.

Chama-se este poema “A Beleza”, e começa dizendo assim:

Eu sou bela ó mortais, como um sonho de pedra,
E meu seio, em que todos vieram buscar a dor,
É feito para inspirar ao poeta este amor
Eterno e mudo como a matéria...


É um poema repleto de simbolismos, de representações as mais diversas.

Eloquente e silencioso, a um só tempo.

Para mim, que tenho sobre este poema uma compreensão limitada - e talvez equivocada -, muito aquém de ousar  compreender a genialidade de Baudelaire, este poema, para mim, se expressa pela voz de uma estátua exposta ao tempo, uma estátua que fala como uma esfinge incompreendida, e que, segundo o próprio autor, exalta a beleza universal.

Esta estátua é a arte.

Escolhi esta passagem para lembrar nosso compromisso pétreo para com a beleza sonhada em nossas representações pictóricas ou escultóricas, como também em nosso modo de viver o cotidiano, expostos que também estamos nós ao tempo, mas também para jurar o dever intrínseco ao artista de fazer fundir os elementos e os valores que constituem sua permanente busca pela criação da obra, que se confunde, sem concessões, com os valores mais gratos ao homem.

Pertenceis doravante à Academia Brasileira de Belas Artes, entidade sexagenária que fundou, desde a história do Brasil do último século, o elevado papel de preservação do compromisso, não de regular, mas de fazer reverberar os mais legítimos símbolos da arte.

Por seu nome – academia -, não tratamos da discriminação que, para muitos, ainda hoje reservaria o termo. 

Na verdade, o termo “academia”, erroneamente compreendido por seu estereótipo conservador, tem transmutado, perseguindo e se adaptando à contemporaneidade, e, ainda assim, tem preservado seu sentido etimológico, porque este não se rende ao tempo das reformas do léxico; tem desígnio e é eterno.

A Academia não pertence a um passado. Ela vive no presente, mira o futuro, qualificando, dentre as tendências modernas e atuais, e da linguagem contemporânea, a arte que se concebe pela reflexão, desprovida da demagogia das cores, do discurso vazio e incongruente, que permeia o mundo das futilidades meramente comerciais e decorativas. A arte não é um simples modelo, mas um gesto divino.

Já se ouviu dizer, por exemplo, que a pintura teria os seus dias contados. 

Hoje fala-se o mesmo dos livros, que com o advento da informática e das mídias teriam contados os seus dias.  

Passados tantos anos de tal afirmação - aquela sobre a pintura -, o que se vê é o intensificado desejo do homem de regressar às suas representações imanentes, de repetir a imagem inteligível, as lições de Altamira e Lascaux, de Leonardo e Michelangelo, a imagem bela que por sua força divina toma o nosso olhar maravilhado, e que nesta fruição na intimidade do ateliê, diante do dilema da tela branca e vazia, ou da argila ainda amorfa, nada mais significa que a absorção de nossa própria imagem e semelhança.

A arte, assim, é uma dádiva que nos corre pelas veias.

Queridos colegas que hoje enriquecem mais esta Academia:

Arminda, Jorge, Cecília, Isabel, Rose, Lia, Sylvia e Denilson.

Ao adentrar os umbrais desta Casa, o fazeis sob o reconhecimento público de seus valores próprios, por vezes conquistados com dificuldade, pela dor mesma que buscam os artistas na estátua da Beleza, a Arte.

E o fazeis com o compromisso de dignificar esta Academia, a mais antiga e a única, na área de que tratamos, reconhecida por Decreto Público como órgão consultivo do Governo Federal do Brasil.

Esta circunstância vos habilita aos pareceres judiciosos, à autoridade universalmente reconhecida, sim, mas, acima de tudo, vos resguarda na humildade da alma criadora do verdadeiro artista, pois que a arte é palavra de liberdade, a arte liberta e edifica a alma, e o artista se nutre do extrato de seu próprio fazer para fruir a liberdade para si e distribui-la aos seus semelhantes.

Nós acadêmicos, não somos mais do que os outros artistas.

Nossas capas, não nos ungem de privilégios ou de exclusividades, e nem nos tornam medalhas vivas.

Mas nós, acadêmicos, somos um símbolo.

Somos uma advertência.

Somos uma missão, qual seja a de promover a boa arte, aquela que a cada dia renova a leveza do espírito, enche-nos do senso de equilíbrio das virtudes essenciais como a generosidade, como a humildade, e nos orienta em direção a valores fundamentais como a Paz.

Isso é o que somos.

Sejam bem-vindos, queridos colegas acadêmicos.


Muito obrigado

Um comentário:

  1. Li o discurso do Acadêmico Paulo Amaral, dileto amigo e insigne artista plástico. Emociona-me sobremodo a abertura da fala quando Paulo Amaral toma parceria no poema "A Beleza" de Baudelaire, para poder adentrar o elogio ao papel da nossa ABBA no passado, presente e futuro. Parabéns Paulo Amaral, mas principalmente muitos parabéns também para a nossa Presidente Iracy Carize e os colegas confrades e confreiras Arminda, Jorge, Cecília, Isabel, Rose, Lia, Sylvia e Denilson. Infelizmente, por razões devidamente justificadas anteriormente, eu não pude estar presente aos eventos de posse. Aproveito deste breve comentário para elogiar a ABBA pelo site que está agora funcionando perfeitamente e oferecendo a todos, membros ou não membros da Academia, a oportunidade de acompanhar, em sitio oficial da entidade, os acontecimentos acadêmicos. Fraterno abraço a todos do Acadêmico Rocha Maia

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